Bem vindo ao blog do Histor

Olá! Este blog tem por objetivo divulgar idéias, eventos e publicações relativos à Teoria da História e à História da Historiografia, de modo a constituir mais um canal de informação e incentivo ao estudo desses domínios.

Hello! Este blog tiene como objetivo difundir ideas, eventos y publicaciones relacionadas con la Teoría de la Historia y la Historia de la Historiografía,con el fin de proporcionar un canal adicional de información e incentivos para estudiar estas áreas.

Hello! This blog aims to disseminate ideas, events and publications related to the Theory of History and the History of Historiography, in order to provide another channel of information and incentive to study these areas.

DIMENSÕES ÉTICAS DA ESCRITA DA HISTÓRIA NO SÉCULO XVII

Prof. Dr. Eduardo Sinkevisque[1]

Discuto em que medida questões retórico-poéticas relativas à doutrina do estilo do gênero histórico católico do século XVII têm dimensões éticas. Trata-se de analisar a polêmica sobre os estilos ciceroniano/anticiceroniano aplicáveis à escrita da história seiscentista. Leio prólogos, dedicatórias e licenças de textos históricos (traduções portuguesas, espanholas, italianas e francesas dos séculos XVI/XVII de Tácito e de Sêneca); histórias exemplares acompanhadas de prólogos prescritivos; prosas de aconselhamento, como os espelhos de príncipe; além de tratados como o Dell’Arte Historica, de Agostino Mascardi; Prolusiones Academicae, do Padre Famiano Strada; Agudeza y Arte de Ingenio, do Padre Baltasar Gracián; Trattato Dello Stile e Dell Dialogo, do Padre Sforza Pallavicino; Delle Acutezze, de Matteo Peregrini; Brevíssima e Muito Resumida Fórmula de Elaboração Epistolar, de Desiderius Erasmus e A Arte de Escrever Cartas de Justo Lípsio, entre outros textos. A hipótese é a de que a história da polêmica dos estilos pode ser interpretada como uma história de longa duração ou longuíssima[2]. Este trabalho é uma síntese dos resultados dos dois primeiros anos de pesquisa, em nível de pós-doutoramento, que venho realizando desde 2006, junto ao Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL/UNICAMP) [3]. Os resultados aqui resumidos pertencem a três longos artigos ainda inéditos, nos quais demonstro a hipótese da longa duração das polêmicas ético-estilísticas que envolvem a escrita da história seiscentista. Nomeadamente, "Notas sobre a polêmica dos estilos no gênero histórico: apropriações seiscentistas do debate ático X asiático no ‘Dell’Arte Historica’ "; "Doutrina do estilo: confronto entre preceptivas dos séculos XVI/XVII ibérico-italianas e francesas da arte histórica" [4]; "Usos da doutrina seiscentista do estilo do gênero histórico" [5]. Embora me concentre em textos do século XVII, recorri à leitura de muitos textos do século XVI, não apenas porque textos que circulam também posteriormente às datações de suas edições impressas; mas, principalmente, por serem textos, cujos modelos retórico-teológico-políticos coincidem com os modelos dos textos seiscentistas. Lembro que minha hipótese da longa duração das polêmicas éticas e estilísticas me obrigou a ler retores e historiadores antigos, especificamente romanos. Como não disponho de muito tempo, não posso fazer nenhuma demonstração com excertos de prosas, sejam retirados da tratadística, sejam dos textos históricos. A história do ciceronianismo, desde o início, instaura-se como polêmica. No “Humanismo”, ganha estatuto central no tocante à imitação. Envolvendo ataques e defesas; vaidades afetadas por humores sanguíneos e juízos beligerantes, letrados disputam a hegemonia das representações retóricas e políticas. Em linhas gerais, no século I da Era Cristã, a querela romana do ciceronianismo é embate entre os estilos ático/asiáticociceroniano/anticiceroniano, nobre ou simples, dos genera grande/humile/vehemens para imitação oratória e, por homologia, para a imitação em prosa histórica. Os principais retores envolvidos são Quintiliano (Cartas a Pompeu) e Sêneca (ControvérsiasCartas a Lucílio). Posicionando-se contrariamente ao anônimo ad Herenium e a Cícero dos diálogos sobre oratória, do Orador e do Brutus, Quintiliano e Sêneca propõem vários modelos imitativos. Selecionam e combinam essa variedade, não separando imitatio de emulatio. Cícero pensa essas categorias sem propor a ruptura delas com o costume. Para Quintiliano e Sêneca, pela variação e combinação de modelos, as categorias têm mobilidade, singularidade e multiplicidade. A discussão estilística se atém à tripartição dos gêneros e a seus decoros. O aticismo romano é uma espécie de reabilitação do estilo humilde oratório dos antigos cônsules. Há diferenças entre os aticismos ciceroniano e senequista. O primeiro gera, por meio da clareza e de uma ponderação ornamental, efeitos de “elegância” e de “naturalidade” do genus humile da interlocução oral, com base na neglegentia diligens do decoro das cartas e dos diálogos. O segundo, estóico, caracteriza-se pela brevidade e obscuridade do estilo epigramático, “cortado”, “denso”, às vezes, “solto” ou coupé. O genus medium, asiático, é para Cícero o estilo suave e ornado do gênero demonstrativo encomiástico que visa ensinar e deleitar, mas sem excessos. O genus vehemens, um dos cernes das censuras anticiceronianas dos séculos XV/XVI/XVII, é amplo, copioso, grave, ornado etc. Caracteriza-se como um dos principais objetos das censuras, pois é, por definição, o estilo oratório que Cícero e os ciceronianos propõem, ao contrário do lacônico senequista-tacitista reciclado no século XVII por meio das apropriações de Lípsio, principalmente. Grande parte dos jesuítas ibérico-italianos associa o senequismo-tacitismo a “maquiavelismo”. Desde o século XVI, em Portugal, há reações de teólogos às propostas de O Príncipe, de Maquiavel. Os teólogos opõem-se a Maquiavel, que se afasta do modelo sacro de virtude cristã. Jerônimo Osório, o principal teórico ibérico contrário a Maquiavel, afirma a excelência do Cristianismo frente às teses políticas do florentino, reconhecendo a vigência de uma ordem moral que a religião de Jesus pressupõe e impõe. As teses de Maquiavel foram identificadas ao luteranismo, calvinismo, reformismo, que se insurgiam contra a ordem tradicional da Escolástica católica de que Roma era símbolo. Segundo Albuquerque, Tácito “(...) prestava-se às mil maravilhas para a afirmação e atuação (...) do utilitarismo em política. O Tibério de Tácito era o irmão mais velho do Príncipe de Maquiavel (...)”[6]. O debate “humanista” de ciceronianismo/anticiceronianismo tem por objeto os modos de imitar, não a própria imitação. O que se debate é se Cícero deve ou não ser modelo exclusivo da imitação. Os principais agentes são: Angelo Ambrogni (1454-1494), Paolo Cortesi (1465-1510), Erasmo (1469-1536) e Justo Lípsio (1547-1606). Ambrogni, na Lição Inaugural (...) sobre Quintiliano, em Florença, propõe reorganizar e amplificar de modo singular a definição ciceroniana de eloqüência dominada pelo gênero epidítico, imitando um extrato do De Oratore (I, 8, 29). Mediado pelo conceito de urbanidade, move-se civilizatoriamente, tendo a retórica como máquina. Polemiza com Paolo Cortesi por meio de cartas. Ambrogni pensa haver leitores que preferem cartas longas, outros cartas breves, outros que desejam maior argumentação. Há leitores que exigem estilo transparente, outros obscuro; negligente, ou diligente; simétrico ou assimétrico; ático ou asiático; a alegria ou a gravidade; as figuras ou a falta delas etc. Para Cortesi, Cícero é de todos o melhor modelo. Ambrogni nomeia os ciceronianos de “macacos” ou “papagaios” de Cícero. Contudo, a partir de 1528, com os Diálogos Ciceronianos de Erasmo, a querela é reeditada, ganhando dimensões continentais que se prolongam pelos séculos XVI/XVII. Seus contornos, agora, muito variados, redundam em abundância de edições, comentários e antologias. Erasmo, ao se opor ao culto italiano e/ou italianizante de letrados que elegem Cícero (cartas familiares) mestre da escrita, prolonga e enriquece a posição de Ambrogni, entre outras posições anticiceronianas. Um dos postulados é variar não só pelo prazer de variar, mas para adaptar harmoniosamente o estilo ao destinatário. Outro argumento erasmiano para rechaçar o ciceronianismo é o de que o próprio Cícero não tinha modelo único para imitação oratória. Para Erasmo, os ciceronianos fazem do orador um cristão antes do tempo, entendendo que seu culto é um modo supersticioso e fanático de transformar os próprios ciceronianos em pagãos. Nesse sentido, a censura que se faz é histórica e bíblica. Com Lípsio, o embate ganha certo estoicismo, principalmente colhido em Sêneca. Esse estoicismo define-se por meio da expressão semina virtus. Lípsio a emprega, conjugando a paz terrestre com a celeste, em trabalhos como De Constantia (1583), Manductio ad Stoicam Philosophiam (1604), Physiologia Stoicorum (1604) e na tradução das Obras de Sêneca. Lípsio adere à doutrina retórica e teológica de Santo Agostinho, aderindo também às virtudes romanas rejeitadas pelos ciceronianos. As apropriações lipsianas de Sêneca implicam prescrever a “arte de ser bom”, cujas bases estóicas propõem uma ética das virtudes morais mediadas pela razão e pelo controle de paixões como a ira, a inveja e a cobiça etc., para que, no discurso e na vida, sejam coincidentes as virtudes da esfera privada com as da esfera pública em termos de “bem comum”, estilo oratório e atividade política. Ou seja, pela concórdia, pela responsabilidade de cada membro em relação aos demais, a noção de “bem comum” implica a consciência dos interesses coletivos, cujo fim unifica-se no todo. A concórdia pertence à doutrina teológico-política de “fonte” estóica. Na mitologia, ela é Eros, o amor, a energia cósmica; na doutrina seiscentista católica contra-reformada, é uma espécie de simpatia entre as partes do corpo político definida pela doutrina hipocrática e aristotélica dos humores. No século XVII é formulada como senequismo e tacitismo políticos, sendo interpretada pelos jesuítas como anti-maquiavelismo, anti-luteranismo, anti-calvinismo. Mas usada por luteranos e calvinistas como reformismo. A paz e a divergência são garantidas e previstas por meio desse conceito de concórdia. Na edição do Tácito (1574), Lípsio afirma ser a herança da antigüidade imperial romana o que autoriza um patronato sobre as letras da Europa do Norte, nem sempre conveniente, politicamente, à Espanha e à França. Propõe Tácito e Sêneca como guias dos governantes das sociedades de Corte, não só como modelos estilísticos fornecedores do conceito de stylus argutus. Nos prólogos às edições de Tácito e de Sêneca, Lípsio afirma a narração conveniente e implicada das histórias, entendendo-as como gênero maior que combina filosofia, poesia e eloqüência; e não como genus demonstrativum, pois unida à forma estilística da sententia condensada de saberes e de experiência que se destinam, como metáforas graves, a afetar os leitores mais sutis. O anticiceronianismo de Lípsio associa a brevitas com a virtus, apelativo crucial das retóricas do final do século XVI combatentes da retórica de Cícero. Para Lípsio o estilo do sintagma no período deve ser cortado, dividido, sentencioso, pontudo ou ponteagudo, contrário ao redondo e simétrico ciceroniano. No século XVII, Mascardi opõe-se aos “vícios de seu tempo”. Para ele a história é a “pedra angular de uma oratória destinada à correção”[7]. As funções pedagógico-corretivas das variantes epidíticas encomiásticas e vituperadoras, com as quais o letrado trabalha, dão conta de corrigir “os vícios”, entre os quais o “excesso” de ornamentação, que faz com que a elocução se autonomize e perca seu sentido sacro, icástico, ou seu modelo sacramental, como propõe Vieira, ao polemizar com a oratória dominicana[8], e como combate Mascardi em sua Arte Histórica, ao polemizar com Marino, Manzini, Tesauro etc. Mascardi combate, também, o uso excessivo do ornato de modo a confundirem-se os gêneros poéticos e historiográficos. É combate semelhante ao de Vieira contra a falta de decoro no púlpito, que se faz, às vezes, como comédia, macaqueando e não emulando autoridades e virtudes, como convém à oratória sacra, conseqüentemente, sendo inapto a realizar suas funções pedagógico-políticas salvíficas. Ao confrontar tratadistas, retores, historiadores quinhentistas e seiscentistas que se ocuparam, entre outras coisas, do estilo do gênero histórico, pude entender estilo como a maneira conveniente à matéria de que se trata e ao gênero demandado. Estilo regido pelas quatro virtudes retóricas: pureza (latinitas), clareza (perspicuitas), ornamento (ornatus) e decoro (decorum). Concluí que o estilo historiográfico seiscentista eficaz é o grave, porém mesclado, temperado. O uso de ornatos, como figuras de palavra e/ou de pensamento, define o estilo da história também como suave e harmônico, bem proporcionado, segundo Cícero[9]. No século XVII, esse decoro vai ser chamado de ilustrado, astuto, ágil, apto e sagaz, na reciclagem ciceroniana relativizada das prescrições elocutivas. Gracián nomeia-o sutil[10]. Por outro lado, o uso de tropos causa efeitos de estranhamento, produzindo por meio da ornamentação um discurso estrangeiro, singular, distante do ordinário. Por essas razões, o estilo historiográfico seiscentista não pode ser definido como médio, mas temperado, entendendo-se, com isso, não mistura, mas a harmonia entre partes, narrações/descrições seqüenciais, narrações/descrições digressórias, admoestatórias, em justaposição etc. ou breve, lâconico, assimétrico, cortado. Mesmo que se diga que, no gênero histórico seiscentista, o estilo é humilde, essa humildade é modéstia afetada, tópica do discurso que faz com que a audiência seja receptiva aos argumentos do historiador, pois assim confere a ele maior credibilidade e honestidade. A mescla e o tempero, não a mediania, é que podem fazer do discurso algo sem excessos ou faltas. Tesauro diz ser “excesso a falta de majestade” às matérias tratadas no discurso; a falta “de conceitos gravíssimos e ricamente adornados; de afetos suaves e ativos, de razões sólidas e convincentes, de hipérboles, metáforas e alegorias, de períodos arredondados, perfeitos”[11]. O que se costuma chamar estilo médio historiográfico pode ser pensado como medida média e justa entre o uso do juízo e do engenho. Não se confunda o encômio que as prescrições da tratadística mobilizam com o encômio das práticas letradas de gênero histórico, as mesmas funções didáticas não fazem das preceptivas e dos usos a mesma coisa ou igualdade. Identidade de discursos pode haver, porém o encômio que a arte constrói tende a fabricar a excelência dos artífices, na nobreza e dignidade da arte. Já o encômio que as práticas mobilizam, repondo e amplificando o encômio preceituado, fabrica a excelência da figura do herói, valente homem, varão que, por exemplo, deve ser emulado. Propõe-se um duplo encômio, porque dupla emulação. Nesse sentido, tem-se estilos diferentes e decoros próprios. Os textos doutrinários sobre estilo requerem estilo humilde, adequado e digno de sua didática. A prática historiográfica pede, mesmo que didática, estilo grave, alto, temperado em virtude dos caráteres demandados pelo gênero. A história de longa duração das polêmicas ibérico-italianas e francesas católicas contrareformistas, do estilo agudo seiscentista aplicado ao gênero histórico, dá-se por meio de apropriações dos estilos ciceronianos/anticiceronianos, aticistas/asianistas. A tratadística de gênero histórico e/ou os textos doutrinários, que estudei, atualizam os debates sobre estilo romano antigo e “humanista” dos séculos XV/XVI do estilo ático/asiático. O vocabulário utilizado pela doutrina seiscentista do estilo é, praticamente, o mesmo dos retores antigos e “humanistas”, porém interpretado de maneira singular, particular. Ciceronianos quinhentistas e seiscentistas doutrinam o estilo como não ordinário, sem perda de nexos, nem da correspondência entre as partes do todo. Estilo proporcional, simétrico, simples, cujo uso da sentença deve ser sem pompa, com modéstia, contrário à obscuridade. Estilo agudo, mas dotado de agudeza não indiscriminada, regulada segundo prescrições de Mascardi, Peregrini e Vieira, por exemplo. Ciceronianos aconselham ter em vista a claridade e o ornamento ao escrever história. A frase deve ser “chã” e oblíqua, não reta. O estilo histórico deve ser puro, sem uso de epítetos supérfluos, mas de modo que a história seja simples e graciosa, elegante, harmônica, verdadeira e com juízo. Anticiceronianos doutrinam variar os modelos, não tomar Cícero exclusivamente como modelo. O estilo histórico deve ser brilhante, como propõe Malvezzi no “Al Leitor” dos Sucessos Principales de la Monarquia de España en el año de mil seiscentos e treinta i nueve (...) e o ânonimo do “Prólogo” do Seneca Impugnado de Seneca en Questiones Politicas y Morales. “Brilhante” é postulado erasmiano construído por meio das metáforas estilísticas de pedras preciosas e jóias. Anticiceronianos doutrinam também estilo exercitado, não medíocre, lento e de múltiplas leituras. Estilo breve, simples, claro, elegante e decoroso lipsianamente pensado. A frase não deve ser composta de longos períodos, mas curta, sem uso de conectivos, pouco ornada e sem muitas alegorias. A simplicidade, a clareza, a elegância e o decoro são critérios qualitativos homólogos entre partidários ciceronianos e anticiceronianos. Parece, no entanto, haver divergência no entendimento e no uso dessas categorias estilísticas, conforme pude detectar. Anticiceronianos acrescentam à verdade, à clareza e à pureza de estilo o vigor, categoria com a qual pensam a agudeza e maravilha do estilo, que preceituam como discreto, conciso, sutil, noticioso, facundo, variado conforme a matéria. A narração histórica deve ser adornada e não uma simples e “chã” narrativa, como postula Malvezzi. O estilo deve ser lacônico e político (ético), rico de sentenças, ao contrário do que doutrinam ciceronianos repreendedores da riqueza das sentenças. Anticiceronianos definem o estilo histórico como cortesão, dotado de palavras pomposas, peregrino, singular, estranho, avesso ao medíocre e ao rasteiro. Ciceronianos relativizados tendem ora para o ciceronianismo, segundo características definidas acima, ora tendem para o anticiceronianismo, principalmente por meio de prescrições sobre o uso da brevidade lipsiana das apropriações de Tácito e de Sêneca, principais armas contra a chamada prolixidade do discurso. Nesse sentido, o estilo seiscentista do gênero histórico, doutrinado pela tratadística, não é expressão de uma subjetividade psicologizada ou mera expressividade de uma biografia empírica, mas convenções de caracteres e afetos em disputas, em concorrência ou co-presença. Estilo como fides, sinceridade ou fé retórica. Estilos moralizados. Em mundos ibéricos católicos do século XVII, tem-se o pacto de sujeição. Na “holanda” calvinista do século XVII, tem-se o governo constituído por uma assembléia não da escolha da população, mas por meio da determinação divina (predestinação). Diferenças éticas básicas que as polêmicas estilísticas também constituem. No Estado português do Antigo Regime providencialista, a sociedade é pensada de modo corporativista, de matrizes escolásticas, agostinianas e tomistas. Hespanha e Xavier mostram como, fundamentalmente, dois paradigmas políticos, um corporativista e outro individualista, disputaram, no Portugal dos séculos XVI e XVII, o monopólio das representações, na tensão entre modelos tradicionais, como a saúde do corpo, e modernos, pós-cartesianos, como a estabilidade. Demonstram como se deram os equilíbrios na sociedade portuguesa dos séculos em questão. O paradigma que interessa pensar, aqui, é o do pensamento medieval corporativista, fundado no direito canônico, na lei natural e nas leis positivas, cuja ordem universal, o cosmos, abrange os homens e as coisas em harmonia com o princípio de sua criação. Dizem Hespanha e Xavier que “cada parte do todo coopera de forma diferente na realização do destino cósmico”. Assim, teríamos, de um lado a função cabeça, figurando a unidade do corpo, cujo dever é manter a harmonia entre todos os membros submetidos, como súditos, ou vassalos, em pacto como propuseram os teólogos juristas como Suaréz, Vitória, Bellarmino[12]. Veja-se um extrato retirado do “Prólogo” de uma das traduções seiscentistas de Sêneca, com o qual comprovo a moralização católica: “em todas las partes que Seneca como gentil habla de Dioses en numero plural, pongo un solo Dios: porque la gente vulgar [o vulgo, a ignara plebe, gente que não lê o latim] no lea cosa que no sea conforme a nuestra Religion Cristiana”[13]. Atente-se também para a moralização predestinada da história, em chave calvinista, feita pelo ministro de Deus, e capelão protestante de Nassau, Gaspar Barléu: “Nem tolera o Criador do universo que um só povo desfrute e poucos potentados repartam entre si as águas criadas para o bem de todos e destinados à utilidade geral”[14]. Ao fazer o confronto entre a tratadística de gênero histórico seiscentista e os modos como muitas histórias coetâneas foram escritas, escolhi como corpus um duplo recorte. Isto é, li histórias ibéricas e histórias “batavas” sobre as matérias das guerras holandesas no Estado do Brasil (1624-1654)[15]. No século XVII, as histórias dessas guerras são parte significativa do exercício da prática letrada em questão. Os textos prescrevem e desempenham partes da doutrina de gênero histórico, como as referentes à invenção, disposição do discurso (narrador observador em primeira pessoa do singular ou plural; ordem natural, sucessividade na narração dos feitos). No que diz respeito à elocução, conceito de estilo no século XVII, os textos prescrevem e desempenham digressões ora harmônicas, ora breves, lacônicas, não tão conexas entre as partes da narrativa. A presença dos dois tipos rivais ou concorrentes em termos de sintaxe é confirmada no corpus estudado. Os estilos ciceroniano/anticiceroniano das apropriações seiscentistas estudadas, em muitas oportunidades, caracterizam-se mesclados, não chegando a se confundir, mas podendo ser chamados de estilos concorrentes, mais do que rivais ou inimigos, dada a co-presença deles nos discursos, marcada principalmente pelo uso dos períodos arredondados, desmembrados em ramos, encadeados por conjunções como as aditivas e adversativas; e pelos períodos breves, curtos, cortados de matriz lipsiana, cujos nexos se fazem mais por meio do uso da pontuação do que dos conectivos. O recorte ibérico das histórias, na maioria das vezes, é ciceroniano ou ciceroniano relativizado, nunca anticiceroniano, assim como parte significativa da tratadística de gênero histórico. O recorte “batavo” é, predominantemente, anticiceroniano, talvez em consonância com as prescrições tacitistas, erasmianas e lipsianas da doutrina do estilo. A categoria estilística de maior presença, prescrição e desempenho, nos textos de gênero histórico estudados é a brevitas. Tanto ciceronianos/anticiceronianos quanto ciceronianos relativizados prescrevem a brevidade em seus discursos históricos, em homologia com a tratadística de mesmo gênero. Entretanto o topos parece ser mais explorado pelos historiadores de estilo anticiceroniano. O estudo dos usos da doutrina seiscentista do estilo histórico indicou semelhanças entre a tratadística e o desempenho, não igualdade entre as particularizações. Foram investigadas histórias cruzadas com preceptivas e textos doutrinários, deixando-se de parte as minúcias, mas demonstrando-se a hipótese principal, as características mais conspícuas ético-estilísticas das apropriações seiscentistas dos estilos ciceroniano/anticiceroniano aticista/asianista da prosa histórica do século XVII dos recortes ibérico e “batavo”. Características mais conspícuas, talvez, pela exemplaridade, grandeza e proveito moral à sua época. Não tenho tempo para mais nada, entretanto transcrevo abaixo três exemplos estudados de escritas da história para ler quando do debate sobre meu texto (caso me perguntem algo), não agora enquanto termino de falar: 1) “A Providência Divina, que distribui toda a humana grandeza, e costuma igualar a pena à culpa e o prêmio ao merecimento, havendo portugueses padecessem sessenta anos o infeliz domínio de Castela, ou por castigo da vaidade de haverem superado com ações singulares as nações remotas, ou por desconto da glória que na liberdade lhes destinava, suspendendo os golpes da espada da Justiça e mostrando os frutos do ramo da misericórdia, lhes influi alentado espírito, para que, sacudindo tão pesado jugo, libertassem a esclarecida Pátria, melhor fábrica da Natureza, da injusta sujeição que padecia. O maravilhoso efeito que produziu esta resolução determino escrever, se não com a eloqüência e erudição que pede assunto tão levantado (que nenhum dos historiadores antigos logrou melhor emprego), com tão sólida e independente verdade, que não achem os especulativos que contradizer; porque, encontrar em qualquer parte esta alma da História, é tirar o crédito a tudo o que nela se refere; e como a verdade é diamante de tanto fundo e de valor tão intrínseco, que em nenhum tempo achou maior preço que o de seus mesmos quilates, queixem-se embora os que dependerem da falsidade do escritor, para que a posteridade não abomine os seus erros”[16]; 2) “pode-se apreciar melhor a situação da ilha [Curaçau] pela gravura junta, que reproduz tanto quanto possível a sua verdadeira forma e extensão, pelo cujo esclarecimento diremos alguma coisa em breves palavras antes de prosseguir com a narração dos sucessos”[17]; 3) “Nomear quantas Famílias principais se retiraram, será prolixidade. Não referir algumas, ingratidão. Pelo que entre todas, apontarei os Senhores de Engenho, que deixavam a três, e a dois, muitos deles; com outras ricas propriedades, e móveis de importância. Entre os mais, eram mais conhecidos, Jeronimo Cavalcanti de Albuquerque” [enumera longa lista de varões][18]. No primeiro caso, D. Luís de Menezes lança mão de períodos redondos, isentos de sentenças, dotados de conexão entre idéias que satisfazem o ciceronianismo estilístico e político (veja-se o uso de conectivos e de parênteses), apresentando-se homólogos às prescrições da doutrina, cuja prosa está iluminada pela luz natural da Graça. No segundo, Johannes de Laet não só estabelece o critério narrativo pela brevidade anticiceroniana, como lança mão do recurso em sua prosa, pois faz uma escrita despojada de conectivos, uma vez que o “cujo” utilizado é pronome relativo. No terceiro caso, Bartolomeu Guerreiro mescla brevidade/prolixidade, comenta usos estilísticos por motivos políticos (entendendo-se a não ingratidão como tópica política da amizade), podendo ser interpretado como ciceroniano relativizado em termos sintáticos.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Martim de. A Sombra de Maquiavel e a Ética Tradicional Portuguesa – Ensaio de História das Idéias Políticas. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Instituto Histórico Infante Dom Henrique, 1974.
BARLÉU, Gaspar. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil (...). Tradução e anotação de Cláudio Brandão. Prefácio e notas de Mário G. Ferri. Belo Horizonte, São Paulo: Itatiaia, EDUSP, 1974. B
RAUDEL, Fernand. Escritos sobre a História. São Paulo: Perspectiva, 1978.
CÍCERO. De Oratore. In:_ “Obras Escolhidas”. Buenos Aires: Livraria El Ateneu Editorial, s/d. DE LAET, Johannes. História ou anais dos feitos da Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais (1644). Trad. port. José Higino e Pedro Souto Maior. “ABN/RJ”, vol. XLI.
FUMAROLI, Marc. L´Âge de l’Éloquence. Paris: Albin Michel, 1994.
GRACIÁN, Baltasar. Agudeza y Arte de Ingenio. 2 Tomos. Edição, introdução e notas de Evaristo Correa Calderón. Madrid: Clásicos Castalia, 1987.
GUERREIRO, Bartolomeu. Jornada para se recuperar a cidade de Salvador (1625). Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional – Coleção Rodolfo Garcia, 1966.
HESPANHA, António Manuel & XAVIER, Ângela Barreto. “A representação da sociedade e do Poder”. In: _ MATTOSO, José (dir.). História de Portugal: ‘O Antigo Regime’ (coord. António Manuel Hespanha). Lisboa: Editorial Estampa, 1993, vol. 4.
MENEZES, Luís de (3º Conde da Ericeira). História de Portugal Restaurado. Ed. anotada e prefaciada por Antônio Álvaro Dória. Rio de Janeiro: Civilização, s/d.
PÉCORA, Alcir. Teatro do Sacramento: a unidade teológico-retórico-política dos sermões de Vieira. São Paulo/Campinas: EDUSP/EDUNICAMP, 1994.
TESAURO, Emmanuel. Il Cannocchiale Aristotélico ossia idea delle argutezze heroiche volgarmente chiamata impresse examinate infonte co’ rettorici precetti del divino Aristotele, che comprendono tutta la Retorica e la Poética Elocuzione. Turin: Sinibaldo, 1654.
PARTE DAS REFERÊNCIAS DO CORPUS DO PROJETO MENCIONADO BALZAC, (J-L. Guez de). “Discurso da grande eloqüência” (1640). In:_ Les Oeuvres (...) divisèes em deux tomes. Paris: L. Billlaine, 1665.
_____________________. “De l’utilité de l’histoire aux gens de cours” (entretien XXVI, 1644-1651). In:_ Les Entretien. Ed. Critique avec introduction, notes et documents inédits par B. Beugnot. Paris: Didier (S.T.F.M.), 1972, 2 vols.
CABRERA DE CÓRDOBA, L. Filipe 2º Rei de España. Por Luis Sanches. Madrid, 1619.
FARIA, Manuel Severim de. “Vida de João de Barros”, “Vida de Luís de Camões”, “Vida de Diogo do Couto”. (1624). In: _ Discursos Vários Políticos. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1999. _______________________. “Partes e Preceitos da História”. In:_ LISBOA, Cristovão de. História dos Animais e Árvores do Maranhão. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2000. LÍPSIO, Justo. “A Arte de Escrever Cartas de Justo Lípsio”. Trad. Emerson Tin. In:_ A Arte de Escrever Cartas: Anônimo de Bolonha, Erasmo de Roterdam, Justo Lípsio. Campinas, Sp: Editora da UNICAMP, 2005.
___________ . Iusti Lipsi ad Annales Corn. Taciti Liber Commentarius sive Notae. Lugdni, Apud Ant.: (...) MDXCVIII. MALVEZZI, Virgilio. Il Romulo. Genova: Giuseppe Pavoni, 1630. _________________. Sucesos Principales de la Monarquia de España en el año de mil seiscentos e treinta i nueve escritos por el Marques Virgilio Malvezzi del Consejo de Guerra de su Magestad. MASCARDI, Agostino. Dell’Arte Historica. Tratatti Cinque. Coi sommarii di tutta l´opera estratti dal Sig. Girolamo Marcucci. Apresso Giacomo Facciotti. Roma, 1636.
 ___________________ . Prose Vulgari di Monsignor Agostino Mascardi Camarieri d’Honore di N. S. Urbano VIII. Divise in due Parti. In Venetia, MDCLXXIV. Per Nicolô Pezzana. Con Licenza de Superior, e Privilegio. MELO, Francisco Manuel de. Hospital das Letras – Apólogo dialogal Quarto. Editora Bruguesa. S/l, s/d.
________________________ . Tácito Português. Vida, e Morte, Ditos e Feitos de el-Rei Dom João IV. Segundo Apógrafo Inédito da Biblioteca Nacional, com Introdução, Notas de Afrânio Peixoto, rodolfo Garcia e Pedro Calmon. Rio de Janeiro, 1940.
MENEZES, Luís de. “Carta de 19 de Abril de 1670 do Conde da Ericeira a Duarte Ribeiro de Macedo”. In_: RAU, Virgínia. “Um ‘Trabalho Divertido’ do Conde da Ericeira: A História de Portugal Restaurado”. In:_ Separata de Aufsätze zur portugiesischen Kulturgeschichte, 10 Band., 1970, pp. 304-310.
PALLAVICINO, Sforza. Trattato Dello Stile e Dell Dialogo(…). Stamperia del Mascardi. Roma, 1662.
PEREGRINI, Matteo. Delle acutezze (...). Genova/Bologna: Clemente Ferroni, 1639.
SALVADOR, Frei Vicente do. História do Brasil: 1500-1627. Revisão Capistrano de Abreu, Rodolfo Garcia e Frei Venâncio Wílleke, OFM; Apresentação de Aureliano Leite. 7ª edição. São Paulo, Belo Horizonte: EDUSP, ITATIAIA. 1982.
SÊNECA. Libros de Lucio Anneo Seneca, en que tracta de la vida bienaventurada, de las siete artes liberales, de la providencia de Dios, de los preceptos e doctrinas (...), Traduzidos en Castellano, por Mandado del muy alto Principe, El rey Don Juan de Castilla de Leon el Segundo. Anvers, Juan Steelsio, Antuerpia, 1551.
________ . Siete Libros de L. AE. Seneca Traduzidos por el Lic. Pe. Frz (Fernandez) Navarrete Canº de Santiago Consultor del Stº Officio Cappelan y Secretario de Sua Magestad. Y de Camara del Senhor Cardenal Infante Al Exm° Sr. Conde de Olivares Duque de san Luca. Madrid en la Imprenta real, 1627.
________ . Seneca Impugnado de Seneca en Questiones Politicas y Morales. 2ª Impress on Añadida con Diferentes Questiones. Por Don Alonso Nuñez de Castro, Coronista General de Su Magestad en estos Reynos. Madrid. Por Pablo de Val, 1661.
________ . El Sabio en la Pobreza, Comentarios Al Ill. Y Reverendissimo Señor el Feitor D. Fr. Alonso de Santo Tomás, Obispo de Malaga del Consejo de su Magestad por d. Ivan Baños de Velasco y Azebedo. Madrid por Francisco Sanz, en la Imprenta del Reyno, 1670.
________ . Espejo de Bienecho Reso y Agradecidos que Contiene los Siete Libros de Beneficios de Lucio Aneo Seneca, Insigne Filosofo Moral: Agora de Nuevo Traduzidos de Latin en Castellano por Fray Gaspar Ruyz Montiano, de la Orden de San Benito. Tienes Notados y Declarados por el MESMO Tradutor Algunos de los lugares mas Difficiles y al Cabo de Libro Tiene Quatro Tablas de Nueva Invencion, my Provechosas para todo Genero de Personas, Especialmente Predicadores, y para Cortesanos que los Quieren Perecer en sus Cartas y Conversaciones. Dirigido a Don Ivan de Mendoza, Duque del Infantado. Año 1606. Con Privilegio. Impresso en Barcelona, en Casa Sebastian de Cormellas al call.
_________ . Ianneo Seneca Ilustrado em Blasones Politicos, y Morales, y su Impugnador impugnado de si mismo al Serenissimo Señor el D. Iuan de Astria por Don Ivan Baños de Velasco y Azebedo. Madrid por Matteo de Espinosa y Artega. MDCLXX.
_________ . Cinco Libros de Seneca (...) Transladado de Latin en Castellano por Alfonso de Cartagena. Por Meynardo Ungut Alimano et stanislau Polono. Sevilla, 1491.
_________ . Las Epistolas de Seneca. Toledo, 1510.
_________ . El Ayo y Maestro de principes Seneca en su Vida. Baños de Velasco. Por Francisco sanz. Madrid, 1674. STRADA, Famiano. Prolusiones academicae. Roma: J. Mascardum, 1617. ________________ . Primera Decada de las Guerras de Flandes, desde la Muerte del Emperador Carlos V. Hasta el Principio del Gobierno de Alexandro Farnese, Tercero Duque de Parma y Placencia. Escrita en Latim por el P. Famiano Estrada, de la Compañia de Jesus. Y Traducida en Romance, por el P. Melchior de Novar, de la Misma Compañia. Corrigida y enmendada por el Doctor de Bonnemaison. En Colonia con los Privilegios Necessarios. Año MDCLXXXII
________________ . Segunda Decada de las Guerras de Flandes, desde la Muerte del Emperador Carlos V. Hasta el Principio del Gobierno de Alexandro Farnese, Tercero Duque de Parma y Placencia. Escrita en Latim por el P. Famiano Estrada, de la Compañia de Jesus. Y Traducida en Romance, por el P. Melchior de Novar, de la Misma Compañia. Corrigida y enmendada por el Doctor de Bonnemaison. En Colonia con los Privilegios Necessarios. Año MDCLXXXII.
TÁCITO. Las Obras de C. Cornelio Tacito. Traducidas de Latin en Castellano por Emanuel Sueyro, Natural de la Ciudad de Anvers. Dirigidas À Su Alteza Serenissima. En Anvers, en Casa de los Herderos de Pedro Bellero. MDCXIII.
________ . Opere di Ghio Cornelio Tacito con la Traduzione in Volgare Fiorentino del Signore Bernardo da Vanzati, posta Ricontro al texto Latino (...). In Venetia, MDCLVIII.
_________ . Opere di C. Tacito.Trad. N. Perrot Sr. d’Ablancourt. 4ª ed. Paris, Chez Augustin Courbe, MDCLVII.
_________ . Las Obras de C. Cornelio Tacito Traducidas de Latim en Castellano por Emanuel Sueyro (re-impressão). MDCXIX.
_________ . Le Historie Auguste di Cornelio Tacito – Novellamente Fatte Italiane (...). Apresso Vicenzo Vaugris à l’Segno. In Vinegia, 1544.
 __________ . Tacito Español, Ilustrado con Aforismos, por Don Baltasar Alamos de Barrientos. Dirigido a Don Francisco Gomez de Sandovaly Rojas Duque de Lerma Marques de denia &. C. Madrid por Luis Sãchez a su costa, y de Ivan Hafrey. Año MDCXIIII.
_________ . Obras de Caio Cornelio Tacito. Trad. Carlos Coloma. En Duay. En Casa de Marcos Luyon. 1629.
_________ . Annali et Istorie di Cornelio Tacito Tradotte Nuovamente in Vulgare Toscano Publicate da Paolino Arnolfini ad Instanza del R. M. Honoratio Giannetti, per Intelligenza dell’Istoria in Roma, al Segno della Corona in Parvione. Per Luigi Zannetti. 1603.
_________ . Annali et Istorie di Cornelio Tacito Tradotte Nuovamente in Vulgare Toscano dal Adriano Politi, Senese. Et date in Luce dal R. M. Honoratio Giannetti con una Breve Dichiaration d’ alcune Parole per Intelligenza dell’Istoria. Con Privilegio. In Venetia. MDCIIII. Presso Roberto Meghietti. Con Licenza de’Superiori.
________ . Los Cinco Primeros Libros de los Annales de Cornelio Tacito, que Comienzan desde el fin del Imperio de Augusto, hasta la Muerte de Tiberio. Traducidos de Lengua Latina en Castellana por Antonio de Herrera, Coronista Mayor de Su magestad de Las Indias, y Coronista de Castilla. En Madrid, por Ivan de la Cuesta, 1615.
________ . Gli Annali di Cornelio Tacito Cavalier Romano de Fatti e Guerre de Romani (...) da Giorgio Dati Fiorentino Nuovamente Tradotti di Latino in Lingua Toscana. In Venetia Apresso Bernado Giunti. MDLXXXIX
VIEIRA, Antônio (Pe.). “Sermão da Sexagéssima”. In:_ Antonio Vieira – Sermões. 3ª reimpressão. Organização de Alcir Pécora. São Paulo: Hedra, 2001.

NOTAS [1] Texto apresentado no Simpósio Temático Historiografia e Escrita da História: Dimensões Éticas do Ofício do Historiador (coords. Durval Muniz de Albuquerque Jr. e Temístocles Américo Correa Cezar), do XXV Simpósio Nacional de História – Ética e História (ANPUH/UFCE), 12-17 de julho de 2009. [2] Penso com Braudel a fórmula história de amplitude secular, em oposição a história ocorrencial. BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a História. São Paulo: Perspectiva, 1978, p. 44. [3] Trabalho sob a supervisão do Prof. Dr. Alcir Pécora e com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), profissional e intituição aos quais agradeço. O título do projeto é: O Dell’Arte Historica (1636) e a Polêmica dos Estilos: um estudo sobre a tratadística de gênero histórico. [4] Nesse trabalho, pesquisei 41 textos, entre tratados, preceptivas, prólogos prescritivos, dedicatórias, livros de aconselhamento (espelhos de príncipes), cartas, sermão, vidas, discursos e outras prosas doutrinárias que se ocupam, entre outras coisas, do estilo do gênero histórico ibérico-italiano dos séculos XVI/XVII. [5] Analisei, nesse trabalho, 10 histórias ibéricas (católicas) e 7 histórias do mundo holandês (reformadas). No recorte católico, há ciceronianos e ciceronianos relativizados. Por sua vez, no recorte reformado, há historiadores nitidamente anticiceronianos. [6] Cf. ALBUQUERQUE, Martim de. A Sombra de Maquiavel e a Ética Tradicional Portuguesa – Ensaio de História das Idéias Políticas. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Instituto Histórico Infante Dom Henrique, 1974, pp. 103-104. [7] Cf. FUMAROLI, Marc. L´Âge de l’Éloquence. Paris: Albin Michel, 1994, p. 224. [8] A propósito, lembro do estudo de Alcir Pécora sobre os modos oratórios do modelo sacramental em Vieira. Cf. PÉCORA, Alcir. Teatro do Sacramento: a unidade teológico-retórico-política dos sermões de Vieira. São Paulo/Campinas: EDUSP/EDUNICAMP, 1994. [9] Cf. CÍCERO. De Oratore. L. III. [10] Cf. GRACIÁN, Baltasar. Agudeza y Arte de Ingenio. 2 Tomos. Edição, introdução e notas de Evaristo Correa Calderón. Madrid: Clásicos Castalia, 1987, T. I., III. [11] Cf. TESAURO, Il Cannocchiale Aristotelico (…).Turin: Sinibaldo, 1654. [12] Cf. HESPANHA, António Manuel & XAVIER, Ângela Barreto. “A representação da sociedade e do Poder”. In: _ MATTOSO, José (dir.). História de Portugal: ‘O Antigo Regime’ (coord. António Manuel Hespanha). Lisboa: Editorial Estampa, 1993, vol. 4. pp. 121-155. [13] Espejo de Bienecho Reso y Agradecidos que Contiene los Siete Libros de Beneficios de Lucio Aneo Seneca, (...). Dirigido a Don Ivan de Mendoza, Duque del Infantado. Año 1606. Con Privilegio. Impresso en Barcelona, en Casa Sebastian de Cormellas al call. [14] Cf. BARLÉU, Gaspar. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil (...). Tradução e anotação de Cláudio Brandão. Prefácio e notas de Mário G. Ferri. Belo Horizonte, São Paulo: Itatiaia, EDUSP, 1974, pp. 346-347. Sublinhados meus. [15] As Repúblicas Unidas dos Países Baixos totalizavam dezessete províncias que aderiram aos movimentos de reforma da Igreja cristã (Calvino, principalmente – 1509-1564). Os Países Baixos integravam o império espanhol pelo casamento de Joana de Castela e Aragão com Filipe de Habsburgo. Comandaram o domínio Carlos V e, depois, Filipe II. A Holanda era, talvez, a principal República dentre essas no século XVII. No recorte holandês, há textos, cujos “autores” são franceses. Em outros casos, ingleses a serviço da Companhia das Índias Ocidentais. As ocupações holandesas, no Nordeste do Estado do Brasil no século XVII, compõem um dos episódios da guerra de independência político-religiosa das Repúblicas Unidas dos Países Baixos. Movidas contra a Espanha dos Habsburgos, as Províncias Unidas empreenderam uma guerra, em Flandres, que atingiu as bases da riqueza e do poderio ibéricos, em cujas circunstâncias a expansão colonial, que em fins do século XVI sofria dificuldades comerciais, foi instrumento vital das guerras de independência. Entre tentativas de ocupação na Bahia, em Pernambuco, as guerras de resistência, o governo nassoviano, as guerras de restauração e a capitulação dos holandeses, o domínio holandês teve duração de 30 anos. [16] MENESES, Luís de (3º Conde da Ericeira). História de Portugal Restaurado. Ed. anotada e prefaciada por Antônio Álvaro Dória. Rio de Janeiro: Civilização, s/d, vol. I, L I, p. 17. Sublinhados meus. [17] DE LAET, Johannes. História ou anais dos feitos da Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais (1644). Trad. port. José Higino e Pedro Souto Maior. “ABN/RJ”, vol. XLI. L. II, p. 70. [18] GUERREIRO, Bartolomeu. Jornada para se recuperar a cidade de Salvador (1625). Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional – Coleção Rodolfo Garcia, 1966, L. VIII, p. 334.

Nenhum comentário: